A
evolução de um transcritor
A evolução de um transcritor vem com o
tempo de experiência que ele vai acumulando em seu trabalho. Com a repetição da
tarefa de digitar, o corpo começa a trabalhar sozinho, o corpo aprende a
digitar. Também aprende a ouvir, começa a surgir uma misteriosa mas eficaz
intuição ao ouvir as pessoas e parece que ganhamos o poder de adivinhar as
próximas frases ditas pelos falantes. Neste artigo pretendo abordar os
diferentes estágios de evolução pelo qual eu próprio passei. Então falarei de
mim na primeira pessoa.
Este artigo contém 1.320 palavras
aproximadamente e deve levar 7-8 minutos para ser lido.
Hora cheia e hora útil
Aqui acho importante chamar a sua
atenção para o termo hora cheia e hora útil. Hora cheia é o período de 60
minutos efetivamente trabalhados, em que não largo o teclado. Hora útil é o
período de 45 minutos em que não largo o trabalho, reservando 15 minutos para
descanso. Portanto, a hora cheia tem 60 minutos e a hora útil tem 45 minutos de
trabalho para 15 de descanso.
Transcritor iniciante
Quando comecei a acumular as primeiras
horas de transcrição as horas parece que passavam rápido para o que eu conseguia
digitar. Era um usuário do Pacote Office já há um bom tempo – usei muito Word e
Excel na vida – era bom datilógrafo e sabia manejar o Windows Media Player.
Através das teclas Alt+Tab trocava as
janelas do Word e do Windows Media Player para a cada vez digitar algumas
palavras. O mouse acionava os botões stop, play e rexind, respectivamente parar,
tocar e voltar, e o Alt+Tab me colocava de volta na tela do Word. Não sabia
regular velocidade do Windows Media Player então o trabalho se arrastava
lentamente.
Com a adoção de tão pouca tecnologia
era natural que eu sofresse na hora de transcrever e produzisse algo em torno
de 2 a 3 minutos por hora de trabalho nas primeiras transcrições.
Trabalhava 12 horas para receber por
dia de trabalho para produzir decepcionantes 60 minutos transcritos e revisados.
Minha produtividade era baixa e o nível de acertos girava em torno de 60-70%, o
que me obrigava a revisar mais de uma vez o meu trabalho.
Converso com algumas pessoas
eventualmente pelo Facebook e as pessoas me dizem anos depois que ainda
gostariam de transcrever. Quando pergunto quais as ferramentas que eles usam,
ainda estão parados no Windows Media Player pois conseguiram um emprego na
época e pararam de transcrever. Agora, desempregados, voltam à atividade. Provavelmente
na primeira oportunidade voltarão para o mercado de trabalho, pois não se ganha
muito sendo freelancer em transcrição de áudio. Resultados parciais são
alcançados para esforços parciais; teremos chance de ter uma recompensa quando
cavamos a fundo. Existem minas de diamante com quilômetros de profundidade.
Resumindo a tecnologia utilizada, Word (editor
de textos da Microsoft), Windows Media Player (Microsoft) e internet. Produtividade:
2-3 minutos por hora cheia de trabalho. Taxa de acertos 60-70% na transcrição.
Caso: a transcritora que copiava
Certa vez passou por mim uma pessoa
muito boazinha mas que não era tão boa transcritora. Passei a dar feedbacks das
minhas revisões colorindo os erros que ela estava cometendo de amarelo e de
verde os acertos que estava promovendo. Ela errava bastante mas como era boa
pessoa não conseguia suspender o serviço dela. Para a minha surpresa após esse
feedback detalhado a transcrição dela passou por uma revolução, a qualidade
subiu bastante. Intrigado fui perguntar e para a minha surpresa, a solução que
ela achara foi a seguinte. Primeiro ela transcrevia a caneta (na mão) para
depois digitar. Era um processo extremamente desgastante e pouco rentável mas a
qualidade melhorou. Tempos depois ela sumiu e voltou anos mais tarde. Curioso
perguntei que softwares estava usando para transcrever e a resposta foi "Windows
Media Player, e Word. Com tanta inocência pedi que ela fizesse nosso curso de
transcrição de áudio que oferecia na época antes de fazer o exame de reingresso.
Ela nunca topou fazer o exame, mas ainda mantém boa relação comigo.
Transcritor pleno
O transcritor pleno já descobriu os
benefícios do Express Scribe, um tocador de áudio da www.nch.com.au (NCH Software). Percebendo que
é possível trabalhar sem precisar usar a tecla Alt+Tab para ficar intercalando
janelas entre Word e Express Scribe, pois o whorkshop permite através das
teclas F1-F12 tomar o comando das teclas play, pouse, stop, rewind, foward e
outras tarefas como a marcação de minutos automática, minha produtividade
passou de 2-3 minutos por hora cheia para 8-10 minutos por hora cheia. Foi uma
revolução na minha vida de transcritor.
Ao mesmo tempo tomei contato com o
conceito de expansor de texto – em inglês é text expander – em que ao digitar "vc,
pex, aparecia "você. É o que fazemos ao mandar mensagens pelo celular,
abreviamos tudo. O expansor de textos permitia atribuir palavras ou frases
inteiras (assinaturas com negrito e tudo mais) acionando a sequência desejada
de teclas.
Por exemplo, "oqqvq, eu uso para "o
que é que você quer, economizando um bom número de toques. Com isso passei a
digitar 40% menos e ganhei 20% de velocidade de digitação. Foi necessário
gastar horas para cadastrar todos os atalhos para cada palavra recorrente que
aparece em minhas transcrições, hoje estou na casa de 28. Mil atalhos
cadastrados.
O resultado de toda essa tecnologia
adicionada fez a velocidade de produção chegar a 15 minutos por hora cheia
trabalhada. Durante um tempo o índice de erros piorou devido aos erros de
cadastro de atalhos, mas subiu de modo geral para 70-80% de acertos.
Caso: tive que desinstalar o Windows e
perdi os atalhos
Isso aconteceu comigo algumas vezes. O
Windows andou muito instável nos primeiros meses das versões 7-8-10 e as
reinstalações eram de certa forma frequentes. Existem pastas de arquivos DLL que
podem ser copiadas para um pendrive para resguardar seus atalhos. Vale a pena
pesquisar sobre isso, para se necessário reinstalar o Word novamente, ter essas
DLLs salvas para copiar por cima da DLL reinstalada de modo a restaurar os
atalhos.
Resumindo, o transcritor pleno, já munido
com maior tecnologia embarcada em seu notebook – Express Scribe, Word e
recursos de atalho manualmente adicionados – tem como recompensa uma digitação mais
rápida e menor quantidade de erros por hora transcrita. Minha produtividade passou
de 10-12 para 12-15 minutos por hora útil.
Transcrição sênior
Ao transcritor sênior já aconteceu de quase
tudo, viu quase tudo o que pode aparecer de desafios na transcrição de áudio,
desde áudios muito bons até áudios péssimos. Sua intuição de escuta
aperfeiçoada durante anos de trabalho, a digitação mais leve, a descoberta de equipamentos
novos que diminuem a fadiga (teclados mecânicos e pedais de transcritor) assim como
a descoberta de funcionalidades interessantes tanto no Express Scribe como Word
me elevaram a produção a 15-20 minutos por hora útil, ou seja a cada 45 minutos
consigo realizar até 20 minutos de transcrição.
Os índices de acerto tem variado entre
85-92% na fase de transcrição, e o que uso hoje para transcrever inclusive o
recurso de Digitação Por Voz do Google Docs – que muita gente chama de transcrição
automática – e coleciono macros, recursos do Visual Basic para fazer AutoCorreções
padrão necessárias para ajustar vários erros que o Google comete na hora de transcrever.
A tecnologia e o know how acumulados
permitem hoje não ganhar mais dinheiro, mas sobrar mais tempo para continuar a
pesquisar um assunto fascinante que parece que não tem fim: a transcrição automática
vem ganhando poderosas ferramentas tanto no IOS quanto no Android e fico
animado para o que vem pela frente.
Transcritor do futuro
cada vez mais a digitação estará
relegado ao segundo plano. O avanço da transcrição automática e o
aperfeiçoamento dos algoritmos de reconhecimento de fala reduziram
significativamente o tempo de produção de uma transcrição de áudio, mas existe
a contrapartida, aumentará o trabalho de revisão. Boa notícia para nós, que sempre
nos esforçamos em revisar bem o material entregue ao cliente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário